28 de abril de 2010

Chiquim Ferreira - nosso vozim

"Todo santo dia ele estava ali sentando na porta, na sua velha cadeira de macarrão, com aquele calção furado dos lados, com aquele chinelo emendado com outra borracha ou então com um prego embaixo e com constantes batidas leves do pé no chão... Também com sua tesoura aparando a barba, e todo dia ele estava com aquela tesoura e eu nunca via diferença na barba...rsrs" [por Elizabeth Ferreira]

"Seu Chiquim, meu vozinho. Ele gostava dum cafunézim. Junto com Dona Rita, criou 14 filhos na roça de milho, feijão, macaxera, abóbora, batata, maxixe e tamborocas. No final do dia voltava com seu jumento. Se, na labuta, tivesse pegado espinho de galho ou flepa de pau, quem tirava era tia Glória, com agulha. Gostava de contar umas lorotas de noite na porta de casa. Só fuleragem. Com a voz bonita que ele tinha, grossa e aveludada, a gente prestava atenção. Ele tinha um baú, com cadeado. O Baú de vozinho. Ninguém mexia. Agora, é só Deus que sabe o que tem dentro. Lembranças de criança em São Francisco do Piauí..." [por Sinclair Ferreira]

"Eu dizia: 'Zim, Zim'. Ele completava: 'Zão'. Eu pedia bênção, ele me vinha: 'sôi'. Eu queria saber quem tava falando ali naquele momento e ele sem enxergar dizia: 'é scarol'. Zim era o 'nêgo duro' que vivia sua vidinha linda, livre e simples ali na porta da calçada em sua velha cadeira de macarrão cercado pelos que paravam pra ouvir suas piadas, repentes, graças e vê-lo cortar a tal barba que teimava em ficar do mesmo tamanho. O cabelo se mostrava sempre liso e beem branquinho, lavado com o carinho de algum neto ou filho que se dispusesse a mexer ali. 'Zim, que horas são?' Será que era pedir demais para quem já não enxergava mais? Em se tratando de Vozim, não. Ele acertava sempre só de olhar não sei pra qual direção. Ele sentia cócegas. Muitas cócegas... Ele era calmo, não gostava de brigas ou discussões. Era o primeiro a comer e o último a reclamar. Adorava um redinha, um chinelo de couro, e o seu famoso e lendário Baú. Ele não gostava de nada novo. Ele amava economizar. Ele amava a esposa, os filhos, os netos, os bisnetos, os genros, as noras, os passantes e os "conversantes...". O bom é que ele também era, era não, É amado.
Ele viveu feliz, eu sei disso..."
[não tenho o Ferreira no sobrenome, mas o tenho na essência. Hoje vai assim: 'por Carol Ferreira']


Saudades daqueles olhos que já não nos viam mais...
Saudades...

2 comentários:

Unknown disse...

Que linnda homenagem!!!!!!!!!!

Unknown disse...

ERA TUDO TAO LINDOOO :)
VOZIM AMO AMO.
eu tenho o privilegio de ter FERREIRA
hihihih